Assim que
pegamos o diploma nos tornamos, com raras e honrosas exceções, psicólogos
desempregados. Passamos, em um segundo, de elite intelectual a problema social.
Surgem, então, as perguntas: E agora, o que fazer? Que caminho seguir? Há
várias opções, mas o essencial é lembrar-se que “para quem não sabe para onde
vai, qualquer caminho serve”. Reflita bastante, converse com veteranos e
profissionais, pese prós e contras de cada caminho e então escolha aquele que
lhe parece mais adequado. Com este artigo pretendo discutir os caminhos
possíveis para o recém-formado que deseja manter a relação com a psicologia.
Falo isso porque o “adeus às armas” (abandono da profissão) é alto. Pesquisas
apontam que, voluntária ou involuntariamente, entre 15 e 30% dos psicólogos
formados não atuam ou nunca atuaram na profissão. Muitos consideram a
psicologia apenas um conhecimento relevante para a vida, outros largam a
profissão por motivos pessoais (casamento, filhos, etc), outros não conseguem
trabalho, ganham mal ou não se satisfazem com o fazer psicológico e acabam por
mudar de área, etc. Enfim, muitos são os motivos para abandonar a psicologia.
Àqueles que pretendem resistir até o fim, escrevo este artigo.
Após a
formatura alguns optam pelo aprofundamento dos estudos em algum programa de
pós-graduação (especialização/ residência ou mestrado). Para seguir este
caminho algumas ações são necessárias, principalmente no que se refere à
escolha do tema, do orientador e da universidade ou instituto de pesquisa. No
caso do mestrado, a elaboração de um pré-projeto de pesquisa é fundamental.
Saber inglês também. Para maiores informações sobre esta possibilidade
pós-formatura recomendo o livro “Os caminhos para a Pós-Graduação”, de João
Vicente Zampieron e Sônia Lúcia Modesto Zamperion (Editora Livraria da Física,
2004).
Outra
possibilidade é tentar a sorte no mercado de trabalho. Por esta via há
fundamentalmente dois caminhos: tornar-se autônomo ou assalariado. O primeiro
caminho está cada vez mais difícil e o mercado extremamente saturado, mas
muitos recém-formados optam por ele em função, principalmente, do desejo de
atuar na área clínica: uma das poucas situações em que o psicólogo sente-se
realmente um Psicólogo, infelizmente. O recém-formado subloca, então, um
consultório particular e de cara esbarra em inúmeras dificuldades e reveses:
falta de clientes, de experiência, baixo retorno financeiro inicial (e, em
vários casos, posterior), etc. É uma luta diária contra a instabilidade da
atuação autônoma, mas para quem ama o trabalho clínico, pode valer muito à pena
encarar o desafio. Afinal, qual caminho é isento de riscos?
Mantendo em
parte esta instabilidade, o segundo caminho - a busca por um emprego - é,
atualmente, a melhor possibilidade de inserção do psicólogo no mercado de
trabalho. A psicologia torna-se, cada vez mais, uma prática institucionalizada
e voltada, predominantemente, para a área organizacional. Por esta via há
também dois principais caminhos: o privado e o público.
Com relação
ao primeiro algumas dicas preciosas são: elabore um currículo atraente e
não-padronizado, o distribua em empresas e consultorias de RH e cadastre-o em
sites de emprego (Agencia de emprego etc); fique bastante atento à seção de
classificados dos jornais de sua cidade, mas não espere a divulgação de um
anúncio, continue distribuindo seu currículo. Muitas empresas só descobrem que
precisam de um psicólogo quando um bate à porta. Fique atento também a
processos trainee. E, claro, prepare-se para o processo seletivo...
O segundo
caminho, o público, é especialmente recomendado para recém-formados sem
experiência profissional (normalmente exigida em seleções de empresas privadas)
e sem QI (o hiper-disseminado “quem indica”). O concurso público ainda é a
forma mais democrática e justa de seleção de candidatos (obviamente há
exceções, principalmente na esfera municipal), pois oferece a todos a mesma
chance de conseguir uma boa vaga, sem restrições de nível social, etnia, opção
sexual, idade e sexo. O que conta é, primordialmente, o mérito na avaliação.
Além disso, há a possibilidade de estabilidade profissional (após 3 anos de
trabalho), bem como de um bom salário, boas condições de trabalho e um bom
plano de carreira, principalmente na esfera federal. A seguir listo uma série
de recomendações bem práticas e mastigadinhas que aprendi, por tentativa e
erro, durante meu relativamente curto período como “concurseiro profissional”:
1- Informe-se
sobre os concursos em andamento e àqueles programados para serem lançados.
Algumas opções para isto são: comprar e ler o jornal Folha Dirigida, assinar o
site deste mesmo jornal (www.folhadirigida.com.br) e pesquisar na seção Boas
Oportunidades, ou então entrar nos sites www.pciconcursos.com.br ou
www.redepsi.como.br (nenhum tão completo e prático quanto o da FD). Há também
uma comunidade no Orkut denominada Concursos em Psicologia. Vale tudo para se
manter atualizado!
2-
Escolhido(s) o(s) concurso(s) a ser(em) realizado(s), leia todo o edital. Isto
é essencial, pois nele estão todas as informações importantes sobre o concurso:
o número de vagas; o vencimento ou remuneração, o período e o preço da taxa de
inscrição, a data da prova, o prazo de validade do concurso, o prazo para
recursos contra o gabarito e contra o resultado, a matéria da prova, etc. Além
disso, é importante observar se o concurso é somente de provas ou de provas e
títulos, se exige experiência profissional (hoje, por lei, o máximo que pode
ser exigido é 6 meses) e se as vagas estabelecidas são para contratação
imediata, contratação temporária ou para cadastro de reserva. OBS: a maioria
dos concursos de psicologia (que não tem sido poucos) não tem exigido nem
experiência nem titulação. E isto é ótimo!
3-
Matricule-se em um curso preparatório (público – CPC ou privado – Logos, BMW,
Executivo, etc.) ou, se for muito, mas muito disciplinado mesmo, estude por
conta própria. Para a maioria das pessoas aconselho procurar um curso
preparatório. Os professores, se bons, fazem toda a diferença na memorização do
conteúdo programático e na resolução de eventuais dúvidas. Pesquise bastante
antes de se matricular em um destes cursinhos: neste meio há, como em quase
tudo na vida, muita propaganda enganosa. Por experiência própria, recomendo o
Curso Preparatório para Concursos da Prefeitura de Juiz de Fora, gratuito e com
excelentes materiais e professores. Para quem se interessar os telefones do CPC
são: 3690-8503/ 8320.
4- Estude com
afinco as seguintes matérias (que são aquelas cobradas na maioria dos
concursos): português (gramática e interpretação de texto), matemática e
raciocínio lógico, atualidades e conhecimentos gerais, informática e noções de
direito (constitucional e administrativo, principalmente). É o estudo destas
disciplinas que, no final das contas, fará a diferença na classificação ou não
em algum concurso. Obviamente não deixe de estudar psicologia, mas invista
bastante do seu tempo nas disciplinas acima citadas. E cuidado na hora de
comprar as apostilas de estudo: tem muita porcaria no mercado. Outra coisa:
faça exercícios, muitos exercícios. Faça principalmente provas de concursos
anteriores. É muito importante conhecer o estilo da banca examinadora. Este é,
não espalhem, o pulo do gato!
5- Quanto ao
estudo de psicologia, programe-o a partir da bibliografia divulgada junto ao
edital. Somente se não houver indicação de bibliografia (o que não é incomum)
estude a partir dos temas. O fato é que na psicologia não há consenso sobre
quase nada: o que um autor defende o outro nega. Portanto, é fundamental
conhecer as idéias e posições dos autores especificados na bibliografia oficial.
Em qualquer caso, vale a pena, como complemento aos estudos, baixar e fazer
provas de psicologia na internet. Tenho várias: para quem se interessar é só me
mandar um e-mail. Existem também dois livros com questões reunidas e, no
primeiro caso, comentadas: Psicologia – 500 questões com gabarito comentado
(Luciana Castro, Ed. Campus) e Psicologia – Coletânea de Provas (Ed. Degrau
Cultural). O primeiro pode ser encontrado ou encomendado em livrarias da cidade
(Vozes, Liberdade, etc.), enquanto o segundo somente no site da Livraria
Dirigida (www.livrariadirigida.com.br).
6- Tenha
calma e peça calma a seus pais ou parentes: normalmente leva tempo para passar
em um concurso público e conquistar a tão esperada independência financeira. O
tempo médio para aprovação no Brasil é de cerca de 2 anos e três meses (mas não
se assuste pois esta é a média e sem dúvida existem aqueles que demoram 10 anos
como há aqueles que passam de cara). De qualquer forma, vale a pena seguir o
mantra dos concurseiros profissionais: não estude para passar, mas sim até
passar. Se não pensar assim você só vai se frustrar, pois uma coisa que aprendi
é não subestimar a concorrência. A dolorosa verdade é que tem gente estudando a
muito mais tempo que você e normalmente são poucas vagas em jogo (ainda mais
para a psicologia). Basta portanto, 2, 3, no máximo 5 pessoas melhores que você
para que você não passe. E uma recomendação: não vá com muita sede ao pote.
Faça todos os concursos que puder, porém dê atenção especial a concursos menos
concorridos (e, logicamente menos remunerados), pois, quanto maior o salário
prometido maior a concorrência. E quanto maior a concorrência, menores são as
suas chances. Não estou lhe menosprezando, acredite, estou sendo realista.
Assim, se você quiser ganhar R$5.000 em seu primeiro emprego talvez demore um
bom tempo; mas se o salário de R$1.500 (mais comum) lhe é razoável, talvez você
passe mais depressa. A verdade é que temos a vida pela frente e este emprego
será somente o primeiro degrau de uma longa escada. Tentar chegar ao topo de
cara pode lhe render um belo tombo (ou vários).
Em qualquer
caso, esteja disposto a mudar de cidade. Em Juiz de Fora, pelo que percebi, há
poucas ofertas de emprego para o psicólogo recém-formado, tanto na via privada
quanto na pública.
Bem, espero
que estas dicas lhes sejam úteis. Narcisicamente, espero também que eu esteja
trabalhando quando estas palavras forem lidas. Em junho passei em 2 concursos e
estou esperando ser chamado. Assim que puder escrevo contando como é trabalhar
como psicólogo. Até mais....